quinta-feira, 14 de março de 2013

Sentado em W / W-sitting

Bons dias colegas e afins

Hoje queria falar um pouco sobre uma posição que é muito frequente em crianças, com ou sem complicações neuro-motoras, a posição de sentado em "w".
Tenho vindo a aperceber-me, através da minha prática clínica e no meu dia-a-dia, que muitas crianças assumem esta posição no chão, com as pernas posicionadas num formado de W. De repente, perguntam-me qual é o mal que isto tem, certo? Sim, esta posição por si só não tem mal nenhum, desde que a criança não permaneça nesta posição por longas horas, e desde que não seja uma criança com complicações neuro-motoras.
 
A alternância de posições é muito benéfica para o desenvolvimento motor de uma criança, pois as alterações na postura ajudam no desenvolvimento muscular do tronco, bem como a formar as primeiras noções de equilibrio, reacções associadas e, muito importante, a consciência corporal. Contudo, se uma criança assumir esta postura insistentemente, poderá no futuro gerar alguns problemas ortopédicos, bem como dificuldades nas aquisições de alguns parametros do desenvolvimento motor normal.
 
 
 
 
É muito importante para uma criança alterar as suas posturas e decúbitos enquanto brincam, porque desta forma desenvolvem a força dos grupos musculares do tronco, ganhando assim um bom controlo postural. Com esta aquisição, a criança consegue realizar rotações, inclinações e transferências de peso a nível lateral do tronco, vai ganhando também mais controlo nas reacções protectivas e na dissossiação de cinturas. Estas aquisições são de extrema importância, não só para o sucesso do seu desenvolvimento motor, mas também para o desenvolvimento do seu membro dominante, isto porque, como todos já ouvimos falar, "para termos um bom controlo distal, é necessário possuir uma boa estabilidade proximal".
 
Mas o que acontece à criança quando está na posição de sentado em w?
Na posição de sentado em w, a criança tem uma grande base de sustentação em comparação com outras posições de sentado, o que garante uma maior estabilidade estática e uma menor necessidade de ajustes posturais. Nesta posição, o centro de gravidade dificilmente ultrapassará a sua base de sustentação (a área ocupada pelo "W") e desta forma os músculos do tronco serão menos utilizados para manter o equilibrio, o que faz com que não exista instabilidade, logo o desenvolvimento de reacções posturais fica atrasado e o fortalecimento dos músculos do tronco é escasso. Também irá limitar as rotações do tronco e as transferências de peso laterais, como por exemplo quando uma criança quer alcançar um objecto que está mais longe.
 
Mas porque é que as crianças assumem esta posição?
Como esta posição é tão estável, a criança pode escolhe-la para não ter de ser preocupar com o equilibrio enquanto brinca. Em crianças com patologia neuro-motoras, principalmente as que são hipotónicas, esta posição é muito comum, devido à sua dificuldade no controlo do equilibrio do tronco. Como consequência, nestas crianças ocorre um atraso nas aquisições do desenvolvimento motor, especificamente no controlo central do tronco e equilibrio, devido ao seu desuso, e na orientação da linha média e membro dominante, devido ao comprometimento que esta posição traz à rotação e transferência laterais.
 
E a nível ortopédico, que complicações existem?
Quando as crinaças estão sentados na posição em w, a articulação das ancas encontram-se no limite da rotação interna, predispondo a problemas ortopédicos futuros, como por exemplo a luxação da anca. Os encurtamentos e contraturas musculares, especificamente nos isquiotibiais, adutores da anca e triceps sural, são também de elevado risco. A postura em "w" também poderá afectar o desenvolvimento ósseo, favorecendo a anteversão da cabeça do fémur e a rotação interna da tíbia.
 
 
 
 
Então, o que podemos fazer?
É importante ajudar e ensinar a criança a assumir outras posições de sentado, como por exemplo a posição de pernas cruzadas. Fornecer estimulos tacteis nas mãos, ajudando assim a criança a modificar a posição por si mesma. Em crianças sem complicações neuro-motoras, esta posição é assumida por hábito, e neste sentido, teremos que tentar desencorajar a criança a assumir esta posição. Em crianças com patologias neuro-motoras, a ajuda dos pais é extritamente essencial, não só para eles perceberem a anormalidade da posição, mas para aprenderem a encorajar as crianças a assumir outras posições em casa, na escola, etc.
 
 
Boas práticas a todos!