sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Síndrome de Prader-Willi

Bom Dia caros colegas e afins,

hoje venho falar-vos um pouco de uma sindrome rara, chamada Síndrome de Prader-Willi. Esta síndrome (SPW) é um distúrbio neurogenético, que decorre de uma anómalia cromossómica de microdelecção/dissomia de ocorrência esporádica, com uma prevalência (número de casos da doença em determinada população e em determinado período de tempo), aproximada entre 1/10.000 e 1/30.000. Em Portugal, a prevalência desta sindrome é totalmente desconhecida, visto não existirem dados fidedignos sobre esta temática, tornando assim muito difícil o conhecimento da evolução e da história natural da doença.
 
A síndrome de Prader-Willi, descrita em 1956, decorre da deleção 15q11-13, em 70% dos casos, da porção próximal do braço longo do cromossoma 15 paterno. Cerca de 25% destes doentes têm dissomia uniparental materna do cromossoma 15, e os restantes têm translocações ou outras alterações estruturais neste mesmo cormossoma. Quando, nesta mesma localização cromossómica, existe uma alteração do material genético de prevalência materna, as crianças podem apresentar características físicas e desenvolvimentais de uma outra doença, a síndrome de Angelman, como já foi descrito no post anterior.
 
A sindrome caracteriza-se por hipotensão grave e dificuldades alimentares ni início da infância (0-2 anos), seguidos de ingestão excessiva de alimentos, obesidade mórbida e atraso mental (geralemnte moderado) no final da infância. O grau de atingimento cognitivo é variável e consiste em dificuldades de aprendizagem e alterações do comportamento.
 
Logo após o nascimento, um dos sinais mais caracteríticos e precoces da síndrome de Prader-Willi é a hipotonia (falta de força muscular). O choro é muito singular: é fraco, pouco sustentado e de uma frequ~encia muito elevada (muito agudo). O aspecto físico destas crianças é relativamente característico com a região frontal estreita, fendas palpebrais amendoadas e lábio superior fino e virado para baixo. Nos primeiros 12 meses de vida, estão descritos muitas dificuldades alimentares. A partir do segundo ano de vida, uma das principais manifestações da síndrome é o excesso de apetite, facto que origina, na maioria dos casos, formas muito graves de abosidade. Os adultos com síndrome de Prader-Willi apresentam uma estatura baixa, sendo que para os homens, a média da altura no final do crescimento, situa-se nos 155 cm, e nas mulheres, a média situa-se nos 147 cm. As mãos e os pés são pequenos. Outra das manifestações comuns nesta doença é o hipogonadismo (insuficiente desenvolvimento dos órgãos genitais), nem sempre fácil de detectar, sobretudo no sexo feminino. Em 60% das mulheres com esta síndrome, apresentam amenorreia (ausência de fluxos menstruais), em 40%, a menarca (início da menstruação) ocorre entre os 10 e os 28 anos, com uma média aos 17 anos. No sexo masculino, o pénis pequeno e a criptorquidia (ausência do testículo nas bolsas escrotais) é frequente. Nas crianças, existe uma maior incidências de estrabismo, hipertensão arterial e de diabetes mellitus.
 
No desenvolvimento psicomotor, as pessoas com síndrome de Prader-Willi apresentam défice cognitivo ligeiro a moderado (em cerca de 90% dos casos). Também apresentam perturbações significativas nas áreas motoras, com atrasos nas aquisições de competências como o segurar a cabeça, o sentar, andar, correr, e o saltar, provavelmente relacionadas com a hipotonia já referida. Relativamente ao comportamento, as pessoas com esta síndrome podem apresentar manifestações bastante peculiares como sendo calmas, hipoactivas, dóceis e simpáticas, no entanto, estão descritos acessos de irritabilidade e cólera. Também são descritos auto-agreções, originando feridas na pele, escoriações, e perdas de susbstância.
 
A Síndrome de Prader-Willi é reconhecidamente a síndrome genética que está mais associada à obesidade, onde contitui a principal causa do aumento de morbidade e mortalidade prematura nos doentes com SPW, apresentando um risco elevado de desenvolver outras complicações. A obesidade na SPW é consequência da diminuição da saciedade associada ao comportamento alimentar compulsivo, ambos decorrentes de disfunções no hipotálamo.
 
Actualmente não existe nenhum tratamento directo para a SPW. No entanto medidas dietética hipocalóricas e equilibradas podem ser administradas, com restrições alimentares no sentido de diminuir as calorias ingeridas. Este procedimento, isoladamente tem se mostrado ineficaz, o que faz com que o tratamento cirúrgico seja uma opção . Devido à baixa estatura das pessoas portadoras desta síndrome, a administração de hormonas de crescimento é aconselhada, tendo um papel benéfico no crescimento longitudinal a longo prazo, quando administrado em idade adequada, aumentando assim a velocidade de crescimento e estatura final.
 
Para uma adequada intervenção, onde deve incluir uma ajuda efectiva à familia, torna-se necessário o apoio de diversos profissionais como Médico Pediatra, Pedo-Psiquiatra, Fisioterapeuta, Terapeuta Ocupacional, Terapeuta da Fala, Nutricionista, e Psicólogo, bem como será indespensável a colaboração de um Educador ou de um Professor especializado. Este apoio deverá ser iniciado o mais precocemente possível.
 
Existem algumas associações internacionais que trabalham directamente com esta síndrome, como:
1. Founation For Prader-Willi Research
 
2. Prader-Willi Syndrome Association UK
 
3. Asociación Catalana SPW
 
4. Asoc. Madrileña para el Síndrome de Prader Willi (AMSPW)
 
5. Asociación Española para el Síndrome de Prader-Willi
 
6. L'association Prader-Willi Frace
 
7. Raríssimas - Associação Nacional Deficiências Mentais e Raras - Portugal
 
Boas Práticas a todos.
André Santos
 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Síndrome de Angelman

Bom dia caros colegas e afins

hoje queria falar um pouco sobre a Síndrome de Angelman, uma síndrome rara, neurogenética, em que se estima uma prevalência entre 1/10.000 e 1/20.000 casos.


A Síndrome de Angelman (SA) é uma doença genética conhecida à quase meio século, descrita pelo Dr. Harry Angelman, num estudo feito em três crianças com atraso, ataxia, epilepsia e "maneirismos". Foi designada síndrome de "happy puppet" ou marionetas, dado serem crianças bem dispostas e com uma alteração dos movimentos característica. Prevaleceu o nome do médico que a descreveu pela primeira vez, e por esse motivo, é conhecida hoje em dia apenas por Síndrome de Angelman.

O espectro clínico da Síndrome de Angelman é variável, afectando o sistema nervoso central, que inclui um atraso no desenvolvimento motor, como por exemplo o início da marcha, ataxia(incoordenação motora), défice cognitivo, nomeadamente da linguagem, microcefalia pós-natal, epilepsia, doença do movimento e comportamento característica: disposição alegre, com paroxismos de risos despropositados, movimentos das mãos tipo "bater de asas", hiperactividade e alguns aspectos particulares na face, como boca larga com dentes espaçados, prognatismo ou braquicefalia. Alguns deles têm grande fascinio por água.


Em 1987 foram descritos doentes com delecções do braço longo do cromossoma 15 associados a esta síndrome. O SA é causado pela perda de função de um (ou mais) genes na região 15q11-q13, que está sujeito a imprinting genético, que é um mecanismo molecular que resulta no controlo da expressão de determinado alelo, de acordo com a sua origem parental. A perda de contribuição materna desta região origina a síndrome de Angelman e a perda da contribuição paterna origina um quadro clínico distinto, associado a atraso mental, hipotonia e obesidade: a Síndrome de Prader-Willi (que irei falar no próximo post), ou seja, o(s) gene(s) do SA é expresso exclusivamente a partir do cromossoma materno. A perda da região do SA com origem materna pode ocorrer devido a cinco mecanismos genéticos: deleção, dissomia uniparental paterna, defeitos de imprinting, mutação no gene da ubiquinina-proteína ligase (UBE3A) e por mecanismos ainda não identificados. Embora todos estes mecanismos tenham consequências semelhantes no que diz respeito ao desenvolvimento neurológico, existem diferenças muito importantes entre as classes de SA em relação ao risco de recorrência.
 
Existe tratamento para a Síndrome de Angelman?
Apesar da melhoria na caracterização da extensão das deleções e dos genes envolvidos, permitindo uma melhor definição do fenótipo e uma melhor compreensão da função de determinados genes, até ao momento, não existe cura para a SA, no entanto existe tratamento para alguns sintomas, como por exemplo o controlo da epilepsia, quando presente, através do uso de medicação. Da mesma forma, algumas medicações podem melhorar as alterações comportamentais ou as perturbações do sono.
No panorama actual, os portadores desta síndrome devem ser inseridos precocemente num programa de estimulação, sendo necessário um apoio ao longo da vida de forma a torná-los o mais independentes possíveis.
Devido à hipotonia e ao atraso do desenvolvimento motor, a criança com SA tende a adoptar posições preferenciais, nas quais pode permanecer durante um longo período, podendo originar encurtamentos musculares, dificultando ainda mais o seu desenvolvimento, neste sentido a Fisioterapia é muito importante na prevenção da rigidez articular e mobilidade geral. Em associação à falta de equilíbrio e ataxia, a criança apresenta dificuldade na realização de marcha independente. Em geral, estas crianças são hipercinéticas, com uma capacidade de concentração e atenção reduzida, cansando-se facilmente de uma mesma tarefa. A coordenação motora global é adquirida com uma adequação do tónus muscular e instalação das reações de equilíbrio, e é fundamental para que mais tardiamente possa se desenvolver a coordenação motora fina, que lhe permite desenhar, escrever etc.
É essencial ensiná-las sobre a importância e utilidade da locomoção, no sentido de as motivar e participarem activamente nas atividades propostas. Além disso é extritamente necessário melhorar o equilíbrio para que se sintam seguras, permitindo a aquisição de atividades mais independentes como a marcha, o correr e o saltar.
 
Em resumo, o papel da Fisioterapia é fundamental, o mais precocemente possível, para estimular o desenvolvimento e aquisições motoras, permitindo uma maior funcionalidade e independência, prevenindo também posturas desadequadas e encurtamentos musculares.
A Terapia Ocupacional, Terapia da Fala, Hipoterapia e Hidroterapia são também aconselhados, também o mais precocemente possível, para a diminuição de sintomas e melhoria da autonomia diária.
 
Deixo aqui alguns sites de associações da Síndrome de Angelman, espalhadas pelo mundo:
Angelman Forum
 
ASA Queensland
 
ASA Western Australia
 
Canadian Angelman Syndrome Society (CASA)
 
Denmark
 
Finland
 
France
 
Germany
 
Italy
 
 
Portugal
 
 
Boas práticas!
André Santos