quinta-feira, 14 de março de 2013

Sentado em W / W-sitting

Bons dias colegas e afins

Hoje queria falar um pouco sobre uma posição que é muito frequente em crianças, com ou sem complicações neuro-motoras, a posição de sentado em "w".
Tenho vindo a aperceber-me, através da minha prática clínica e no meu dia-a-dia, que muitas crianças assumem esta posição no chão, com as pernas posicionadas num formado de W. De repente, perguntam-me qual é o mal que isto tem, certo? Sim, esta posição por si só não tem mal nenhum, desde que a criança não permaneça nesta posição por longas horas, e desde que não seja uma criança com complicações neuro-motoras.
 
A alternância de posições é muito benéfica para o desenvolvimento motor de uma criança, pois as alterações na postura ajudam no desenvolvimento muscular do tronco, bem como a formar as primeiras noções de equilibrio, reacções associadas e, muito importante, a consciência corporal. Contudo, se uma criança assumir esta postura insistentemente, poderá no futuro gerar alguns problemas ortopédicos, bem como dificuldades nas aquisições de alguns parametros do desenvolvimento motor normal.
 
 
 
 
É muito importante para uma criança alterar as suas posturas e decúbitos enquanto brincam, porque desta forma desenvolvem a força dos grupos musculares do tronco, ganhando assim um bom controlo postural. Com esta aquisição, a criança consegue realizar rotações, inclinações e transferências de peso a nível lateral do tronco, vai ganhando também mais controlo nas reacções protectivas e na dissossiação de cinturas. Estas aquisições são de extrema importância, não só para o sucesso do seu desenvolvimento motor, mas também para o desenvolvimento do seu membro dominante, isto porque, como todos já ouvimos falar, "para termos um bom controlo distal, é necessário possuir uma boa estabilidade proximal".
 
Mas o que acontece à criança quando está na posição de sentado em w?
Na posição de sentado em w, a criança tem uma grande base de sustentação em comparação com outras posições de sentado, o que garante uma maior estabilidade estática e uma menor necessidade de ajustes posturais. Nesta posição, o centro de gravidade dificilmente ultrapassará a sua base de sustentação (a área ocupada pelo "W") e desta forma os músculos do tronco serão menos utilizados para manter o equilibrio, o que faz com que não exista instabilidade, logo o desenvolvimento de reacções posturais fica atrasado e o fortalecimento dos músculos do tronco é escasso. Também irá limitar as rotações do tronco e as transferências de peso laterais, como por exemplo quando uma criança quer alcançar um objecto que está mais longe.
 
Mas porque é que as crianças assumem esta posição?
Como esta posição é tão estável, a criança pode escolhe-la para não ter de ser preocupar com o equilibrio enquanto brinca. Em crianças com patologia neuro-motoras, principalmente as que são hipotónicas, esta posição é muito comum, devido à sua dificuldade no controlo do equilibrio do tronco. Como consequência, nestas crianças ocorre um atraso nas aquisições do desenvolvimento motor, especificamente no controlo central do tronco e equilibrio, devido ao seu desuso, e na orientação da linha média e membro dominante, devido ao comprometimento que esta posição traz à rotação e transferência laterais.
 
E a nível ortopédico, que complicações existem?
Quando as crinaças estão sentados na posição em w, a articulação das ancas encontram-se no limite da rotação interna, predispondo a problemas ortopédicos futuros, como por exemplo a luxação da anca. Os encurtamentos e contraturas musculares, especificamente nos isquiotibiais, adutores da anca e triceps sural, são também de elevado risco. A postura em "w" também poderá afectar o desenvolvimento ósseo, favorecendo a anteversão da cabeça do fémur e a rotação interna da tíbia.
 
 
 
 
Então, o que podemos fazer?
É importante ajudar e ensinar a criança a assumir outras posições de sentado, como por exemplo a posição de pernas cruzadas. Fornecer estimulos tacteis nas mãos, ajudando assim a criança a modificar a posição por si mesma. Em crianças sem complicações neuro-motoras, esta posição é assumida por hábito, e neste sentido, teremos que tentar desencorajar a criança a assumir esta posição. Em crianças com patologias neuro-motoras, a ajuda dos pais é extritamente essencial, não só para eles perceberem a anormalidade da posição, mas para aprenderem a encorajar as crianças a assumir outras posições em casa, na escola, etc.
 
 
Boas práticas a todos! 


 
 
 


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Síndrome de Prader-Willi

Bom Dia caros colegas e afins,

hoje venho falar-vos um pouco de uma sindrome rara, chamada Síndrome de Prader-Willi. Esta síndrome (SPW) é um distúrbio neurogenético, que decorre de uma anómalia cromossómica de microdelecção/dissomia de ocorrência esporádica, com uma prevalência (número de casos da doença em determinada população e em determinado período de tempo), aproximada entre 1/10.000 e 1/30.000. Em Portugal, a prevalência desta sindrome é totalmente desconhecida, visto não existirem dados fidedignos sobre esta temática, tornando assim muito difícil o conhecimento da evolução e da história natural da doença.
 
A síndrome de Prader-Willi, descrita em 1956, decorre da deleção 15q11-13, em 70% dos casos, da porção próximal do braço longo do cromossoma 15 paterno. Cerca de 25% destes doentes têm dissomia uniparental materna do cromossoma 15, e os restantes têm translocações ou outras alterações estruturais neste mesmo cormossoma. Quando, nesta mesma localização cromossómica, existe uma alteração do material genético de prevalência materna, as crianças podem apresentar características físicas e desenvolvimentais de uma outra doença, a síndrome de Angelman, como já foi descrito no post anterior.
 
A sindrome caracteriza-se por hipotensão grave e dificuldades alimentares ni início da infância (0-2 anos), seguidos de ingestão excessiva de alimentos, obesidade mórbida e atraso mental (geralemnte moderado) no final da infância. O grau de atingimento cognitivo é variável e consiste em dificuldades de aprendizagem e alterações do comportamento.
 
Logo após o nascimento, um dos sinais mais caracteríticos e precoces da síndrome de Prader-Willi é a hipotonia (falta de força muscular). O choro é muito singular: é fraco, pouco sustentado e de uma frequ~encia muito elevada (muito agudo). O aspecto físico destas crianças é relativamente característico com a região frontal estreita, fendas palpebrais amendoadas e lábio superior fino e virado para baixo. Nos primeiros 12 meses de vida, estão descritos muitas dificuldades alimentares. A partir do segundo ano de vida, uma das principais manifestações da síndrome é o excesso de apetite, facto que origina, na maioria dos casos, formas muito graves de abosidade. Os adultos com síndrome de Prader-Willi apresentam uma estatura baixa, sendo que para os homens, a média da altura no final do crescimento, situa-se nos 155 cm, e nas mulheres, a média situa-se nos 147 cm. As mãos e os pés são pequenos. Outra das manifestações comuns nesta doença é o hipogonadismo (insuficiente desenvolvimento dos órgãos genitais), nem sempre fácil de detectar, sobretudo no sexo feminino. Em 60% das mulheres com esta síndrome, apresentam amenorreia (ausência de fluxos menstruais), em 40%, a menarca (início da menstruação) ocorre entre os 10 e os 28 anos, com uma média aos 17 anos. No sexo masculino, o pénis pequeno e a criptorquidia (ausência do testículo nas bolsas escrotais) é frequente. Nas crianças, existe uma maior incidências de estrabismo, hipertensão arterial e de diabetes mellitus.
 
No desenvolvimento psicomotor, as pessoas com síndrome de Prader-Willi apresentam défice cognitivo ligeiro a moderado (em cerca de 90% dos casos). Também apresentam perturbações significativas nas áreas motoras, com atrasos nas aquisições de competências como o segurar a cabeça, o sentar, andar, correr, e o saltar, provavelmente relacionadas com a hipotonia já referida. Relativamente ao comportamento, as pessoas com esta síndrome podem apresentar manifestações bastante peculiares como sendo calmas, hipoactivas, dóceis e simpáticas, no entanto, estão descritos acessos de irritabilidade e cólera. Também são descritos auto-agreções, originando feridas na pele, escoriações, e perdas de susbstância.
 
A Síndrome de Prader-Willi é reconhecidamente a síndrome genética que está mais associada à obesidade, onde contitui a principal causa do aumento de morbidade e mortalidade prematura nos doentes com SPW, apresentando um risco elevado de desenvolver outras complicações. A obesidade na SPW é consequência da diminuição da saciedade associada ao comportamento alimentar compulsivo, ambos decorrentes de disfunções no hipotálamo.
 
Actualmente não existe nenhum tratamento directo para a SPW. No entanto medidas dietética hipocalóricas e equilibradas podem ser administradas, com restrições alimentares no sentido de diminuir as calorias ingeridas. Este procedimento, isoladamente tem se mostrado ineficaz, o que faz com que o tratamento cirúrgico seja uma opção . Devido à baixa estatura das pessoas portadoras desta síndrome, a administração de hormonas de crescimento é aconselhada, tendo um papel benéfico no crescimento longitudinal a longo prazo, quando administrado em idade adequada, aumentando assim a velocidade de crescimento e estatura final.
 
Para uma adequada intervenção, onde deve incluir uma ajuda efectiva à familia, torna-se necessário o apoio de diversos profissionais como Médico Pediatra, Pedo-Psiquiatra, Fisioterapeuta, Terapeuta Ocupacional, Terapeuta da Fala, Nutricionista, e Psicólogo, bem como será indespensável a colaboração de um Educador ou de um Professor especializado. Este apoio deverá ser iniciado o mais precocemente possível.
 
Existem algumas associações internacionais que trabalham directamente com esta síndrome, como:
1. Founation For Prader-Willi Research
 
2. Prader-Willi Syndrome Association UK
 
3. Asociación Catalana SPW
 
4. Asoc. Madrileña para el Síndrome de Prader Willi (AMSPW)
 
5. Asociación Española para el Síndrome de Prader-Willi
 
6. L'association Prader-Willi Frace
 
7. Raríssimas - Associação Nacional Deficiências Mentais e Raras - Portugal
 
Boas Práticas a todos.
André Santos
 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Síndrome de Angelman

Bom dia caros colegas e afins

hoje queria falar um pouco sobre a Síndrome de Angelman, uma síndrome rara, neurogenética, em que se estima uma prevalência entre 1/10.000 e 1/20.000 casos.


A Síndrome de Angelman (SA) é uma doença genética conhecida à quase meio século, descrita pelo Dr. Harry Angelman, num estudo feito em três crianças com atraso, ataxia, epilepsia e "maneirismos". Foi designada síndrome de "happy puppet" ou marionetas, dado serem crianças bem dispostas e com uma alteração dos movimentos característica. Prevaleceu o nome do médico que a descreveu pela primeira vez, e por esse motivo, é conhecida hoje em dia apenas por Síndrome de Angelman.

O espectro clínico da Síndrome de Angelman é variável, afectando o sistema nervoso central, que inclui um atraso no desenvolvimento motor, como por exemplo o início da marcha, ataxia(incoordenação motora), défice cognitivo, nomeadamente da linguagem, microcefalia pós-natal, epilepsia, doença do movimento e comportamento característica: disposição alegre, com paroxismos de risos despropositados, movimentos das mãos tipo "bater de asas", hiperactividade e alguns aspectos particulares na face, como boca larga com dentes espaçados, prognatismo ou braquicefalia. Alguns deles têm grande fascinio por água.


Em 1987 foram descritos doentes com delecções do braço longo do cromossoma 15 associados a esta síndrome. O SA é causado pela perda de função de um (ou mais) genes na região 15q11-q13, que está sujeito a imprinting genético, que é um mecanismo molecular que resulta no controlo da expressão de determinado alelo, de acordo com a sua origem parental. A perda de contribuição materna desta região origina a síndrome de Angelman e a perda da contribuição paterna origina um quadro clínico distinto, associado a atraso mental, hipotonia e obesidade: a Síndrome de Prader-Willi (que irei falar no próximo post), ou seja, o(s) gene(s) do SA é expresso exclusivamente a partir do cromossoma materno. A perda da região do SA com origem materna pode ocorrer devido a cinco mecanismos genéticos: deleção, dissomia uniparental paterna, defeitos de imprinting, mutação no gene da ubiquinina-proteína ligase (UBE3A) e por mecanismos ainda não identificados. Embora todos estes mecanismos tenham consequências semelhantes no que diz respeito ao desenvolvimento neurológico, existem diferenças muito importantes entre as classes de SA em relação ao risco de recorrência.
 
Existe tratamento para a Síndrome de Angelman?
Apesar da melhoria na caracterização da extensão das deleções e dos genes envolvidos, permitindo uma melhor definição do fenótipo e uma melhor compreensão da função de determinados genes, até ao momento, não existe cura para a SA, no entanto existe tratamento para alguns sintomas, como por exemplo o controlo da epilepsia, quando presente, através do uso de medicação. Da mesma forma, algumas medicações podem melhorar as alterações comportamentais ou as perturbações do sono.
No panorama actual, os portadores desta síndrome devem ser inseridos precocemente num programa de estimulação, sendo necessário um apoio ao longo da vida de forma a torná-los o mais independentes possíveis.
Devido à hipotonia e ao atraso do desenvolvimento motor, a criança com SA tende a adoptar posições preferenciais, nas quais pode permanecer durante um longo período, podendo originar encurtamentos musculares, dificultando ainda mais o seu desenvolvimento, neste sentido a Fisioterapia é muito importante na prevenção da rigidez articular e mobilidade geral. Em associação à falta de equilíbrio e ataxia, a criança apresenta dificuldade na realização de marcha independente. Em geral, estas crianças são hipercinéticas, com uma capacidade de concentração e atenção reduzida, cansando-se facilmente de uma mesma tarefa. A coordenação motora global é adquirida com uma adequação do tónus muscular e instalação das reações de equilíbrio, e é fundamental para que mais tardiamente possa se desenvolver a coordenação motora fina, que lhe permite desenhar, escrever etc.
É essencial ensiná-las sobre a importância e utilidade da locomoção, no sentido de as motivar e participarem activamente nas atividades propostas. Além disso é extritamente necessário melhorar o equilíbrio para que se sintam seguras, permitindo a aquisição de atividades mais independentes como a marcha, o correr e o saltar.
 
Em resumo, o papel da Fisioterapia é fundamental, o mais precocemente possível, para estimular o desenvolvimento e aquisições motoras, permitindo uma maior funcionalidade e independência, prevenindo também posturas desadequadas e encurtamentos musculares.
A Terapia Ocupacional, Terapia da Fala, Hipoterapia e Hidroterapia são também aconselhados, também o mais precocemente possível, para a diminuição de sintomas e melhoria da autonomia diária.
 
Deixo aqui alguns sites de associações da Síndrome de Angelman, espalhadas pelo mundo:
Angelman Forum
 
ASA Queensland
 
ASA Western Australia
 
Canadian Angelman Syndrome Society (CASA)
 
Denmark
 
Finland
 
France
 
Germany
 
Italy
 
 
Portugal
 
 
Boas práticas!
André Santos
 

domingo, 27 de janeiro de 2013

Desenvolvimento Psicomotor Normal dos 15 Meses aos 6 Anos, e seus sinais de ALARME




15 Meses
Motricidade global
         Começa a dominar a marcha, ainda de base alargada. Pode ainda andar só com apoio, já que a marcha autónoma pode surgir entre os 9 e os 18 meses, sendo mais importante a noção de que a criança se desloca de alguma forma.
Motricidade Fina/Visão
       Começa a definir a lateralidade dominante, usando mais uma mão, mas utilizando a outra como mão de apoio.
        Segura o lápis como se fosse escrever.
        Empilha dois cubos, rola a bola.
        Põe e tira objectos de recipientes.
Linguagem/Audição
         Tem 4-5 palavras mas compreende muito mais e identifica objectos a pedido.
        Olha para o que os pais apontam, iniciando uma atenção conjunta e triangulando o olhar com os pais e objectos.
   Aponta para pedir (proto-imperativo) e depois para mostrar (proto-declarativo), como forma de interacção social.
Autonomia/socialização/comportamento
        Bebe pelo copo e usa a colher.
      Procura a independência e tem noção de território e de posse. É a altura em que foge aos pais e começa a fazer birras.
        Reage à frustração com atitudes primitivas: grita, arranha, morde.
ALARME
        Ausência de tentativa de se deslocar ou de explorar o ambiente.
        Exploração dos objectos ainda prioritariamente oral.
        Não faz sons variados e polissílabos, não tenta imitar o som do adulto.
        Não faz pinça fina e não usa funcionalmente os objectos.
        Não aponta ou tenta usar o gesto como suporte da comunicação.
        Não cumpre ordens simples.

18 Meses
Motricidade global
         Anda bem, recua, baixa-se e apanha um brinquedo do chão e dá uma corrida pequena.
        Sobe escadas com apoio.
Motricidade Fina/Visão
         Tem a lateralidade mais definida, faz rabiscos no papel, empilha três cubos.
        Olha para o livro e volta páginas, com mais interesse no conteúdo.
        Faz puzzle de três peças com formas simples, com noção de forma e cor.
Linguagem/Audição
         Usa 6-26 palavras reconhecíveis e compreende muito mais.
        Mostra três partes do corpo.
        Identifica objectos de uso corrente e nomeia alguns.
        Usa o gesto para comunicar, aponta, mostra e partilha.
Autonomia/socialização/comportamento
         Bebe pelo copo sem entornar, segurando-o com ambas as mãos.
        Usa a colher entornando pouco.
        Descalça sapatos e peúgas.
     Não gosta que lhe peguem, demonstrando independência crescente, mas quer muita atenção. Alguns comportamentos de desafio.
        Ansiedade de separação, que tem um pico por volta dos 18 meses e depois abranda de novo.
        Imita actividades domésticas, inicia o jogo simbólico.
        Imita o comportamento dos outros.
        Mais noção do seu «eu» e mais excitado com a companhia de crianças, iniciando a socialização.
ALARME
        Não se põe de pé, anda em pontas; não anda; assimetrias.
        Não faz pinça fina, atira objectos ou leva-os sistematicamente à boca, não apresentando uso funcional.
        Ausência de resposta à voz, não vocaliza espontaneamente, não tem a palavras perceptíveis.
        Não se interessa pelo que o rodeia, não estabelece contacto e não apresenta intencionalidade comunicativa.
        Não cumpre ordens.


2 Anos
Motricidade global
         Corre bem, chuta a bola, salta a pés juntos, sobe e desce degraus.

Motricidade Fina/Visão
• Lateralidade mais definida, usa mais uma mão.
• Constrói torres de seis cubos.
• Imita rabisco circular.
• Coordena as duas mãos, deitando água de um para outro recipiente.
• Vê o livro, passando página a página.
• Tem noção de cores e formas e sabe seleccionar por grupos iguais.
• Desenrosca a tampa da garrafa.

Linguagem/Audição
• Diz o primeiro nome.
• Faz monólogos enquanto brinca.
• Diz holofrases (já tá e dá cá) e junta palavras (mãe rua, quero papa).
• Identifica muitos objectos e pessoas e nomeia alguns objectos.
• Segue ordens simples.
• Repete palavras que ouviu.

Autonomia/socialização/comportamento
• Inicia treino dos esfíncteres diurno.
• Pede brinquedos; ainda faz jogo paralelo mas gosta de interagir.
• Pede alimentos à mesa, come bem com a colher e bebe pelo copo sem entornar.
• Ajuda a vestir, põe o chapéu e calça sapatos e identifica várias partes do corpo.
• Imita comportamento dos adultos e outras crianças. Tem jogo imitativo - em que imita acções dos outros - e jogo simbólico - em que usa objectos fingindo ser algo diferente ou recria personagens.
• Gosta de brincar com outros mas é muito possessivo e com independência crescente.
• Começa a testar limites e regras parentais, é desafiante e faz birras.
• É importante perceber a vinculação, a estruturação parental e as rotinas que estão implementadas em relação à alimentação, sono, higiene, controlo de birras, para dar estratégias aos pais e evitar agravamento dos problemas no futuro.

ALARME
• Não anda ou anda sistematicamente em pontas, o que pode ser um sinal de hipertonia distal dos membros inferiores ou alertar para aspectos comportamentais (por ser uma estereotipia).
• Deita objectos fora e não constrói nada.
• Não parece compreender o que lhe dizem.
• Não tem palavras inteligíveis.
• Não procura imitar, não se interessa pelo meio e pelas pessoas e não tenta interagir.
• Não aponta, não pede, não mostra.
• Birras desajustadas em frequência e intensidade ou sem motivos aparentes.


3 Anos
Motricidade global
• Tem equilíbrio momentâneo num pé.
• Salta a pés juntos e sobe degraus alternando o pé.
• Anda em bicos de pés de forma voluntária.
• Corre, chuta a bola e pedala o triciclo.

Motricidade Fina/Visão
• Faz torre de oito cubos, imita a ponte de três cubos.
• Enfia contas, enrosca e tenta cortar com tesoura.
• Imita a cruz e copia o círculo (ainda incompleto).
• Selecciona por cores e faz puzzles tendo noção de forma e de tamanho.
• É importante que conclua as tarefas, embora o tempo de concentração seja muito curto (5-10 min).

Linguagem/Audição
• Sabe o nome e apelido e o sexo.
• Pergunta, canta, define objectos pelo uso.
• Usa frases de 3 a 5 palavras, com advérbios e adjectivos.
• Vocabulário extenso mas que pode ser incompreensível para estranhos e ter defeitos de articulação e imaturidades na fala.
• Conhece o dinheiro, tem noção de maior, compara tamanhos e repete três dígitos (memória verbal imediata).

Autonomia/socialização/comportamento
• Usa a casa de banho sozinho, mas pode não controlar a micção durante a noite.
• Come com colher e garfo.
• Desabotoa botões (ainda não abotoa).
• Tem jogo imaginativo e partilha a brincadeira com os outros; pode ter um amigo imaginário ou brincadeiras com fantasia.
• Adquire noção de ironia, faz «palhaçadas» e é muito social, embora possa variar com o temperamento de cada criança.
• As birras são mais intencionais, surgem os terrores nocturnos, os medos e fobias porque tem mais noção do ambiente e dos perigos.
• Muito egocêntrico e incapaz de adiar a recompensa ou de esperar a sua vez.
• Já consegue estar separado dos pais sem grande ansiedade e tem alguma dificuldade em lidar com alterações na rotina.

ALARME
• Anda sistematicamente em pontas.
• Mantém flapping dos braços quando excitado. Este comportamento pode ser normal até esta idade, desde que seja isolado e não associado a outras estereotipias, mas deve desaparecer a partir dos três anos.
• Não parece compreender o que lhe dizem, não junta duas palavras.
• Não usa funcionalmente os objectos e não tenta fazer algo construtivo ou criativo.
• Não tenta interagir com os outros, não socializa, não mostra, não partilha, não pede.
• Não usa o gesto como suporte da comunicação no caso de dificuldades na expressão verbal.


4 Anos
Motricidade global
• Salta num pé, corre, pedala e anda em cima de um muro, com maior capacidade de equilíbrio.
• Sobe e desce escadas com alternância dos pés.

Motricidade Fina/Visão
• Faz construções e puzzles mais complexos (escada de seis cubos).
• Copia a cruz e o quadrado.
• Desenha a figura humana (girino).
• Faz dobragens em imitação, corta com tesoura.
• Nomeia quatro a seis cores.

Linguagem/Audição
• Linguagem compreensível mesmo por estranhos, contando histórias, com mais vocabulário e usando pronomes.
• Pode ter algumas substituições e trocas fonéticas.
• Sabe onde vive e tem noção dos espaços dentro de espaços (que Lisboa fica em Portugal, por exº.).
• Compara tamanhos, comprimentos e pesos.
• Conta até quatro, com noção de quantidade.
• Memória de repetição de quatro dígitos.
• Sabe a idade.

Autonomia/socialização/comportamento
• Veste e despe-se com ajuda. Come sozinho com garfo e colher.
• Ajuda nas tarefas domésticas.
• Interessado em novas experiências e curioso.
• Brinca com outros e gosta do jogo simbólico e de fantasia. Mais independente e começa a saber resolver conflitos.
• Tem noção dos seus pensamentos e sentimentos, alguns medos dos «monstros» e dificuldade em separar a fantasia da realidade.
• Aumento gradual da concentração para 10-15 min e aprende a esperar a sua vez.


5 Anos
Motricidade global
• Corre e chuta a bola, sobe e desce escadas e tem grande agilidade e autonomia.
• Atira bola ao ar e apanha.

Motricidade Fina/Visão
• Desenha com mais detalhes a figura humana, faz uma casa e formas variadas, desenha o triângulo.
• Recorta bem com tesoura.
• Faz construções mais elaboradas e tem noção de padrões e sequências.

Linguagem/Audição
• Discurso fluente podendo ter pequenas incorrecções articulatórias ou sigmatismo que devem tentar ser corrigidos antes de iniciar a escola (nesta fase já há boa colaboração da criança).
• Grande aumento de vocabulário, com definição de opostos, materiais, noções temporais e de velocidade.
• Usa frases de 5 palavras e com tempos verbais, embora por vezes com algumas incorrecções gramaticais.
• Conta até 15 e conhece as moedas.

Autonomia/socialização/comportamento
• Lava-se, veste-se e despe-se sem ajuda. Come com faca e garfo.
• É autónomo na casa de banho.
• Escolhe os amigos, gosta de lhes agradar e por vezes tenta imitá-los.
• Gosta de dançar, cantar e fazer teatro e já é capaz de ficar sozinho com os amigos ou em casa de vizinhos.
• Distingue a fantasia da realidade.
• Compreende as regras do jogo.
• Concentração aumenta (15-20 min).


6 Anos
Motricidade global
• Bate a bola e apanha, atira ao ar e apanha.
• Saltita e salta bem ao «pé coxinho».

Motricidade Fina/Visão
• Desenha a figura humana e a casa com pormenor, escreve letras e alguns números, escreve o seu nome.
• No caso de ainda não ter lateralidade bem definida (pode só se completar por volta dos sete anos) pode cometer erros visuoespaciais e desenhar letras em espelho e ainda não ter a noção das regras de escrita (sequência da esquerda para a direita, que as letras devem ficar todas juntas e as palavras separadas por espaços, etc.), o que deve ser corrigido e ensinado activamente. Não são indicadores de dislexia, nem de necessidade de correcção visual.
• Faz encaixes complexos e construções criativas e replica formas sem modelo.

Linguagem/Audição
• Fala bem, com vocabulário rico, palavras descritivas e partículas de ligação; boa sintaxe. Gosta de ajudar e sabe fazer tarefas de forma autónoma.
• Faz adições simples contando pelos dedos e tem memória de cinco dígitos.
• Tem um amigo preferido, interesses mais específicos e atenção dirigida (30-50 min), estando apto a iniciar a escola.

ALARME (dos 4 aos 6 anos)
• Hiperactivo e agitado, ou distraído e com dificuldades de concentração, que não vai melhorando ao longo deste período.
• Comportamento muito difícil, opositivo e desafiante que não é controlável pelos pais.
• Problemas de interacção social, associados ou não a comportamentos repetitivos e estereotipados e dificuldades na comunicação e empatia.
• Linguagem incompreensível aos quatro anos, não conseguindo descrever uma figura, ou com substituições fonéticas e erros articulatórios presentes aos cinco ou seis anos.
• Dificuldade na aprendizagem das letras ou que na escola (aos sete anos) não aprende a ler.
• Suspeita de défices auditivos e visuais mais ligeiros que devem sempre ser vigiados e detectados, sobretudo em crianças com problemas do desenvolvimento.

Boas Práticas!